Transcrição Fase 1: A sedução perversa e o «bombardeamento de amor»
O desdobramento da idealização estratégica
De acordo com estudos clínicos, a relação com um perfil perverso ou narcisista não começa com maus-tratos, mas com uma fase inicial conhecida como «sedução perversa» ou, em termos mais atuais, Love Bombing (bombardeamento de amor).
Durante esta etapa, a vítima é oprimida por uma atenção excessiva, presentes, elogios constantes e promessas aceleradas de um futuro idílico.
O agressor utiliza todas as suas armas de charme para se tornar a «alma gémea» que a outra pessoa sempre esperou, mimetizando-se com os seus gostos e desejos.
Não se trata de um enamoramento genuíno e gradual, mas de uma encenação teatral e intensa cujo objetivo não é amar, mas sim fisgar.
Ao saturar a vítima de validação, provoca-se uma libertação massiva de dopamina e oxitocina no seu cérebro, gerando uma dependência bioquímica e uma confiança cega que desativam as suas barreiras de proteção naturais.
O estudo das vulnerabilidades
Por trás dessa cortina de perfeição romântica, o agressor está realizando um trabalho de espionagem emocional.
Esta fase de sedução tem uma função instrumental: descobrir as fraquezas, inseguranças e feridas passadas da vítima para saber exatamente onde atacar mais tarde.
O perverso ouve com atenção, não para compreender, mas para armazenar informações.
Além disso, essa exploração muitas vezes se estende ao ambiente próximo; o agressor analisa a família e os amigos do casal, buscando ganhar sua aprovação ou identificar fissuras para ganhar terreno e domínio sobre o contexto social da vítima.
O objetivo final é estabelecer uma posição de poder e controlo antes de mostrar a sua verdadeira face, garantindo que, quando a violência chegar, a vítima esteja emocionalmente comprometida demais para fugir.
A criação de dívida e dependência
A armadilha fundamental desta fase reside na criação de uma dívida emocional implícita.
O agressor, através dos seus gestos grandiloquentes, procura estabelecer uma relação de dependência em que a vítima sinta que lhe «deve» algo por ser tão maravilhoso.
É fomentada a ideia de que encontraram uma conexão única e predestinada, o que isola sutilmente o casal da realidade externa, já que "ninguém mais entenderia".
Esta fase prepara o terreno para a futura indefesa: quando o abuso começar, a vítima lembrar-se-á desta fase dourada e, confusa, pensará que o comportamento agressivo é uma anomalia ou culpa sua, passando o resto da relação a tentar recuperar essa pessoa idealizada que, na realidade, nunca existiu para além da máscara.
Resumo
A relação não começa com violência, mas com o «bombardeamento de amor»: uma encenação teatral de atenções excessivas concebida para gerar uma dependência bioquímica e prender a vítima.
Sob essa máscara de perfeição, o agressor realiza uma espionagem emocional instrumental, ouvindo atentamente para detectar fraquezas, inseguranças e feridas que usará posteriormente como armas para garantir seu controle absoluto.
Esta fase cria uma dívida emocional e uma dependência que isola o casal. A vítima idealiza este período, o que a impedirá de identificar os futuros maus-tratos como a verdadeira realidade.
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