Transcrição Facilitando a narrativa e o processamento
Uso estratégico da investigação aberta
Durante a fase de processamento, o paciente pode experimentar bloqueios verbais ou afasia traumática, em que o acesso à linguagem é comprometido pela ativação límbica.
Para facilitar o fluxo narrativo sem induzir uma sensação de interrogatório policial, o terapeuta deve empregar perguntas abertas ("Como?", "O quê?", "Onde?").
Essas perguntas convidam à descrição fenomenológica e evitam a dicotomia limitante do "Sim/Não", permitindo que o paciente recupere a agência sobre o seu próprio relato.
A escuta ativa neste contexto vai além da atenção auditiva; implica uma presença testemunhal que valida o horror do não dito.
Muitas vezes, o silêncio partilhado é terapêutico em si mesmo, proporcionando um recipiente para emoções que a linguagem ainda não consegue encapsular.
A paciência do terapeuta comunica que não há pressa nem julgamento na revelação da dor.
Gestão clínica de sintomas secundários e comportamentos de risco
É imperativo distinguir entre sintomas primários (reações diretas ao trauma, como flashbacks) e sintomas secundários (tentativas do paciente de autogerir a dor).
Estes últimos incluem comportamentos de automutilação, abuso de substâncias ou distúrbios alimentares.
Clinicamente, são abordados como mecanismos de regulação emocional falhos, não como problemas de comportamento isolados.
A abordagem terapêutica não deve ser punitiva, mas compassiva e pragmática. O objetivo é identificar a função que o sintoma desempenha (por exemplo, «beber para apagar os pesadelos») e trabalhar na substituição dessa função.
Se esses sintomas secundários ameaçarem a vida ou a estabilidade do tratamento, eles devem ser abordados prioritariamente antes de aprofundar o trabalho narrativo do trauma.
Avaliação psicométrica e monitorização do progresso
A terapia do trauma requer uma avaliação contínua para evitar o estagnação ou a descompensação.
Recomenda-se o uso de escalas padronizadas para medir a gravidade dos sintomas de stress pós-traumático (TEPT) e os níveis de dissociação.
Essas métricas objetivas permitem que o terapeuta e o paciente visualizem o progresso, que na recuperação do trauma costuma ser não linear (frequentemente descrito como "dois passos à frente, um passo atrás").
O monitoramento regular ajuda a ajustar o ritmo da intervenção.
Se as pontuações de dissociação aumentarem drasticamente, é um sinal clínico de que o ritmo está muito rápido e deve-se retornar às técnicas de estabilização e ancoragem.
Essa avaliação protege o paciente de ser sobrecarregado por material que ainda não tem capacidade de integrar.
Resumo
Durante o processamento, são utilizadas perguntas abertas para facilitar o fluxo narrativo e evitar bloqueios verbais causados pela ativação límbica. A escuta ativa implica uma presença testemunhal que valida o horror do não dito, permitindo que o paciente recupere a agência sobre o seu relato sem se sentir interrogado.
Os sintomas secundários, como automutilação ou abuso de substâncias, são abordados com compaixão como tentativas fracassadas de regulação emocional. Se esses comportamentos ameaçarem a vida, devem ser tratados com prioridade, buscando substituir a função que desempenham antes de aprofundar o trabalho narrativo do trauma.
A avaliação contínua por meio de escalas psicométricas é necessária para monitorar os níveis de dissociação e ajustar o ritmo da terapia. Se os sintomas aumentarem drasticamente, deve-se retornar às técnicas de estabilização para proteger o paciente de ser sobrecarregado por material que ainda não consegue integrar.
facilitando a narrativa e o processamento