Transcrição A Teoria do «Motorista do Autocarro» e a Regressão
Regressão emocional e o controlo do sistema nervoso
Para compreender a reatividade emocional diante do abuso, é útil empregar a metáfora do "Ônibus", onde o veículo representa o corpo e o sistema nervoso do indivíduo.
Num estado ideal de saúde mental, o «Eu Adulto» (a consciência presente, racional e regulada) ocupa o lugar do condutor.
No entanto, o abuso narcisista atua como um gatilho que provoca uma regressão psicológica imediata.
Quando um narcisista ataca ou manipula, não está a interagir com o adulto presente, mas sim a «desencadear» ou ativar um trauma não resolvido do passado.
Nesse momento, o «Eu Adulto» é deslocado do volante e uma parte fragmentada da psique — a Criança Interior traumatizada — assume o controlo do autocarro.
Se o trauma teve origem aos dois anos de idade, a resposta emocional e comportamental do indivíduo ao conflito será a de uma criança de dois anos: terror absoluto, incapacidade de raciocinar e desregulação, o que muitas vezes leva a «bater o autocarro» (reações desproporcionadas ou paralisia).
Integração das Partes Fragmentadas do "Eu"
A cura requer um processo de integração interna. O objetivo não é silenciar ou expulsar o «passageiro» infantil que grita ou chora, mas assumir a liderança a partir do adulto.
Assim como um capitão de navio mantém a calma durante a tempestade para tranquilizar a tripulação, o adulto deve comunicar-se internamente com a parte traumatizada, oferecendo segurança e validação ("Eu cuido disso", "Você está seguro").
Este diálogo interno impede que a criança ferida sequestre o sistema nervoso. A recuperação do abuso narcisista implica reconhecer que os gatilhos externos são convites para curar essas partes internas.
Quando o indivíduo consegue manter o adulto no lugar do condutor, mesmo sob pressão, o narcisista perde a sua capacidade de desestabilizar, pois não há uma ferida aberta ou uma «criança sozinha» para manipular; há uma psique integrada e protegida.
Identificação de necessidades não satisfeitas e busca externa
Estruturalmente, podemos visualizar a psique humana ao nascer como uma esfera perfeita e completa.
No entanto, os traumas do desenvolvimento e as carências afetivas criam "amolgadelas" ou vazios nessa estrutura, representando as necessidades emocionais não satisfeitas.
A condição humana não resolvida tende a procurar, erroneamente, um agente externo que se encaixe perfeitamente nessa amolgadela para «completar» a estrutura. Isto explica a atração magnética inicial pelo narcisista.
Neurologicamente, somos atraídos por pessoas que vibram na mesma frequência das nossas carências não resolvidas.
É um fenómeno semelhante ao mito dos «fantasmas famintos» na cosmologia budista: seres com um vazio interior insaciável que procuram alimento onde não podem nutrir-se.
O narcisista e o co-dependente partilham as mesmas feridas de abandono e falta de valor, mas lidam com elas com mecanismos de defesa opostos.
A cura implica reconhecer que nenhum outro ser humano pode preencher esse vazio estrutural; é uma tarefa de autorreparação.
Resumo
Esta metáfora explica como o abuso narcisista desloca o «Eu Adulto» do controlo, permitindo que uma «Criança Interior» traumatizada assuma o comando. Os gatilhos atuais ativam traumas passados, provocando reações emocionais desproporcionadas e terror absoluto, próprios da idade em que a ferida se originou.
A cura não implica expulsar a parte infantil, mas assumir a liderança a partir do adulto por meio de um diálogo interno validante. Ao oferecer segurança às partes fragmentadas, evita-se que a criança ferida sequestre o sistema nervoso diante dos conflitos externos, integrando a psique.
As carências afetivas criam vazios estruturais na psique que procuram ser preenchidos erroneamente por agentes externos para se sentirem completos. Esta necessidade não resolvida gera uma atração magnética por narcisistas, que vibram na mesma frequência da ferida, exigindo um trabalho de autorreparação.
a teoria do motorista do autocarro e a regressao