Transcrição Compreender o funcionamento dos pensamentos depressivos
Uma das chaves para começar a superar a depressão é compreender como funciona a nossa mente.
Tanto a ansiedade como a depressão têm uma origem comum: pensamentos automáticos recorrentes que, se não forem identificados ou questionados, acabam por moldar as nossas emoções, decisões e comportamentos.
Esses pensamentos não são escolhidos conscientemente, mas surgem automaticamente como parte do funcionamento normal do cérebro humano. A nossa mente está projetada para pensar constantemente. Mesmo quando dormimos, continuamos a gerar pensamentos na forma de sonhos.
Tentar «calar a mente» ou eliminar os pensamentos negativos não só é irrealista, como pode ser contraproducente. Estes pensamentos — embora dolorosos ou irracionais — têm uma origem adaptativa: antecipar riscos, proteger-nos do perigo e ajudar-nos a sobreviver.
O problema não é ter pensamentos negativos, mas sim como nos relacionamos com eles e até que ponto os tomamos como verdades absolutas.
Diferença entre pensamento e realidade: desfusão cognitiva
Um dos erros mais comuns quando se está deprimido é confundir pensamentos com realidade.
Acreditar que «se penso, é verdade». No entanto, os pensamentos não são factos, são construções mentais, interpretações que a mente elabora muitas vezes de forma automática.
Este fenómeno é chamado de «fusão cognitiva»: estar tão identificado com os nossos pensamentos que agimos como se fossem verdadeiros, sem questioná-los.
A prática terapêutica propõe uma alternativa poderosa: a desfusão cognitiva. Consiste em distanciar-se dos pensamentos, observá-los como o que são — palavras, imagens, ideias passageiras — e não como verdades absolutas que definem quem somos ou o que vai acontecer.
Por exemplo, se penso «sou um fracasso», em vez de assumir isso como uma certeza, posso reconhecer:
- «Estou a ter o pensamento de que sou um fracasso».
Essa pequena diferença de linguagem tem um enorme impacto emocional, pois devolve-me o controlo sobre como reajo ao que penso.
Como detectar e questionar pensamentos negativos
O primeiro passo para mudar a nossa relação com os pensamentos depressivos é aprender a reconhecê-los.
Muitas pessoas vivem em piloto automático, reagindo emocionalmente ao que pensam sem analisar.
Se um pensamento como «não sou suficiente» aparece na mente, o mais comum é aceitá-lo como verdadeiro e agir de acordo com ele. Essa reação automática reforça o mal-estar emocional e alimenta a depressão.
Detectar esses pensamentos implica fazer uma pausa consciente e observar o diálogo interno.
Pergunte a si mesmo:
- O que disse a mim mesmo logo antes de me sentir assim?
- Este pensamento tem evidências reais ou é apenas uma interpretação?
- O que diria a um amigo se ele pensasse isso de si mesmo?
Essas perguntas ajudam a interromper o ciclo de feedback negativo.
Quanto mais praticar este exercício, mais fácil se torna identificar as distorções cognitivas:
- generalizações («tudo dá errado para mim»)
- rótulos («sou um inútil»)
- catastrofismos («isso nunca vai melhorar»)
Técnicas para se distanciar dos pensamentos autocríticos
Depois de reconhecer os pensamentos negativos e questionar a sua veracidade, o próximo passo é aprender a se distanciar deles emocionalmente.
Existem várias técnicas para conseguir essa defusão mental. Uma das mais eficazes é a técnica da repetição consciente:
- Repita o pensamento tal como ele é («Não sou suficientemente bom») 10 ou 15 vezes.
- Depois, acrescente: «Estoy pensando que no soy lo suficientemente bueno».
- Por fim, diga: «Me doy cuenta de que estoy pensando que no soy lo suficientemente bueno».
Este exercício cria um espaço entre o pensamento e quem o pensa. Outro recurso útil é a dramatização humorística do pensamento, levando-o ao extremo até torná-lo ridículo:
- «Sou tão inútil que até respiro mal!»
Essa abordagem, que pode parecer irreverente, tem um efeito libertador, pois permite deixar de levar tão a sério e com tanta rigidez as mensagens da mente.
Também é útil usar frases-âncora para interromper o ciclo de ruminação mental:
- «Isso é apenas um pensamento»,
- «É ruído mental, não uma ordem»,
- «Obrigado, mente, por me lembrar dessa velha história».
Ao repetir estas frases sempre que surgem ideias autocríticas, reforça-se uma postura mais observadora e compassiva para consigo mesmo.
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