Transcrição O fator tempo: o «quando» que muda o significado
O tempo como construtor de memória e história pessoal
O tempo é o primeiro componente do contexto porque só nos tornamos conscientes dele através da experiência.
Não é uma entidade abstrata, mas uma experiência que se materializa em segundos, minutos, dias e anos.
É essa sucessão de experiências que fica gravada na nossa mente, gerando recordações, memória e, em última instância, a nossa história pessoal.
Esta acumulação do passado é fundamental na comunicação, pois cada mensagem que recebemos no presente é filtrada e interpretada através da lente das nossas experiências anteriores.
O que um comentário significa para nós hoje está intrinsecamente ligado ao que vivemos ontem, tornando a nossa história temporal um fator decisivo na descodificação de qualquer mensagem.
O impacto da época: não comunicamos da mesma forma no século XXI que no Renascimento
Para além da nossa história pessoal, a comunicação está sujeita à época histórica em que vivemos.
A forma como nos comunicamos é profundamente moldada pelo momento em que nascemos, seja na década de 1960, nos anos 2000 ou em períodos como o Renascimento ou o Barroco.
Cada época tem as suas próprias normas sociais, tecnologias, vocabulário e estilos de interação.
Um discurso considerado eloquente no século XVIII pode parecer arcaico e pedante hoje em dia.
Da mesma forma, as formas de comunicação digital que consideramos naturais seriam incompreensíveis para alguém de apenas algumas décadas atrás.
Portanto, o grande quadro temporal em que existimos define as ferramentas e as regras do nosso jogo comunicativo.
O «timing»: a importância de escolher o momento certo para comunicar
Se a época define as regras gerais, o "timing" ou a escolha do momento certo define a estratégia ao nível micro.
Compreender o fator tempo permite-nos ser taticamente inteligentes com as nossas mensagens.
O mesmo pedido, formulado com palavras idênticas, pode ter resultados opostos dependendo de quando é feito.
Por exemplo, solicitar um aumento de salário a um chefe num dia de crise financeira para a empresa é uma receita para o fracasso.
Por outro lado, apresentar o mesmo pedido após ter concluído com sucesso um projeto crucial aumenta exponencialmente as probabilidades de uma resposta positiva.
O «quando» não é um detalhe menor; muitas vezes é tão importante quanto o «o quê», e um comunicador eficaz é aquele que sabe ler o momento e agir em conformidade.
A relatividade do tempo e sua percepção subjetiva
Por fim, devemos reconhecer que o tempo é um conceito intangível e abstrato, cuja percepção é inteiramente subjetiva.
Filósofos e cientistas têm refletido sobre a sua natureza paradoxal: o passado já não existe, o futuro ainda não chegou e o presente é um instante que desaparece continuamente.
Essa natureza elusiva significa que a nossa experiência do tempo é relativa.
Para uma pessoa ansiosa, cinco minutos de espera podem parecer uma hora; para alguém absorto numa tarefa agradável, uma hora pode passar num instante.
Essa percepção subjetiva afeta diretamente a comunicação, influenciando a paciência, o senso de urgência e o estado emocional dos interlocutores, o que demonstra que nem mesmo o relógio oferece uma base de entendimento universal.
Resumo
O tempo materializa-se em experiências que geram memórias e a nossa história pessoal, que atua como um filtro. Cada mensagem que recebemos no presente é interpretada através da lente das nossas experiências passadas.
Para além do pessoal, a comunicação está sujeita à época histórica em que vivemos, com as suas próprias normas, tecnologias e vocabulário. O «timing», ou a escolha do momento certo, é uma estratégia fundamental ao nível micro.
O «quando» não é um detalhe menor; muitas vezes é tão importante quanto o «o quê». Solicitar um aumento num dia de crise é um fracasso; fazê-lo após um grande sucesso aumenta as probabilidades de uma resposta positiva.
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