Transcrição Abordagem emocional: curar feridas do passado
Superar a depressão não depende apenas de estratégias racionais ou mudanças comportamentais.
Muitas vezes, no centro do mal-estar emocional encontram-se feridas não resolvidas que, ao não serem tratadas, transformam-se em pensamentos dolorosos, sintomas físicos e sensação de estagnação.
Este módulo propõe uma abordagem emocional profunda para curar essas feridas, especialmente aquelas relacionadas à culpa, raiva, papel de vítima, emoções bloqueadas e perdão como caminho para a libertação pessoal.
Trabalhar a culpa e a raiva ocultas
Uma das raízes mais comuns da depressão é a culpa não reconhecida, especialmente quando misturada com a raiva que não nos permitimos sentir. Muitas pessoas culpam-se por terem sido vulneráveis, por não terem agido de forma diferente em situações passadas ou mesmo por terem sido magoadas.
Quando essa raiva não pode ser expressa e se torna uma emoção silenciada, volta-se contra si mesmo, gerando pensamentos autocríticos como «não valho nada», «foi minha culpa» ou «não mereço estar bem». Este processo acaba por drenar a energia vital.
Essas emoções ficam guardadas no corpo e afetam a nossa capacidade de motivação, clareza mental e desejo pelo futuro.
Trabalhá-las em terapia é fundamental, mas mesmo fora do espaço terapêutico, é possível começar a reconhecê-las escrevendo, nomeando-as e dando-nos permissão para senti-las, sem julgamento.
Identificar a «vítima interior» e as suas necessidades emocionais
Em todas as pessoas deprimidas, geralmente existe uma parte interna que poderíamos chamar de «a vítima interior». Não se trata de um rótulo negativo, mas de uma representação emocional que expressa indefesa, tristeza, solidão ou abandono.
Essa parte interna precisa ser ouvida, compreendida e validada. Não basta impor mensagens como «tem que seguir em frente» se essa parte emocional sente que a sua dor não foi vista.
O primeiro passo é aceitar que essa parte existe e não ter vergonha dela. Muitas pessoas, no seu isolamento, anseiam que alguém valide a sua história: «Sim, o que viveste foi difícil», «Sim, foi injusto o que te aconteceu».
Se essa validação não for encontrada no ambiente, é importante começar a dar a si mesmo, através da autocompaixão e do autorreconhecimento. Validar não é o mesmo que ficar preso ao passado: é ver com clareza o que foi vivido para poder libertar-se e seguir em frente.
Técnicas para libertar emoções bloqueadas
As emoções não expressas tendem a ficar «presas» no corpo, gerando tensão, insónia, fadiga ou uma sensação constante de peso interno.
Liberá-las é um processo que pode começar por meios simples, mas poderosos. Algumas técnicas úteis incluem:
- Escrita expressiva: escribir sin censura sobre lo que sentimos, sin preocuparnos por la coherencia ni la forma, permite que emociones reprimidas encuentren salida.
- Mindfulness e respiração consciente: ayudan a contactar con el cuerpo y permitir que emociones surjan y se atraviesen sin evitarlas.
- Movimento corporal: el ejercicio físico, el baile libre o incluso sacudir el cuerpo conscientemente pueden desbloquear emociones estancadas. El cuerpo, cuando se mueve, permite que las emociones se procesen.
- Chorar conscientemente: permitirse llorar, no como signo de debilidad, sino como una forma fisiológica y emocional de liberación.
Estas práticas permitem abrir espaço interno e conectar-se com sensações que estavam anestesiadas pela tristeza ou apatia.
O perdão como ferramenta de libertação pessoal
O perdão, neste contexto, não é um ato religioso nem uma obrigação moral. É, antes, uma decisão pessoal de deixar de carregar emoções que nos estão a fazer mal. Nem sempre implica reconciliação com quem nos magoou, nem justificar o que aconteceu. Implica libertar o vínculo de sofrimento que nos mantém presos ao passado.
Como explicado nas abordagens baseadas na atenção plena e na ACT, não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos mudar a relação que temos com essa experiência. Perdoar é reconhecer que não queremos mais que essa dor dirija a nossa vida. É libertar o outro, mas acima de tudo libertar-nos a nós mesmos.
A prática do perdão pode começar com exercícios de visualização, escrevendo cartas que não são enviadas ou simplesmente com frases que são repetidas como um ato simbólico: «Já não preciso carregar com esta raiva», «Liberto-me do passado para viver o meu presente».
Este processo pode levar tempo, mas é profundamente transformador. Curar as feridas do passado não acontece num único momento, mas através de uma prática emocional honesta, paciente e compassiva. Quanto mais nos permitimos sentir, validar e libertar, mais espaço criamos para construir um presente com sentido e um futuro com esperança.
Enfrentar o mal-estar e o desconforto emocional
Superar a depressão não significa eliminar todo o mal-estar da vida. Pelo contrário, implica desenvolver uma nova relação com a dor emocional: deixar de fugir, aprender a tolerar o desconforto e usá-lo como bússola de transformação. Nesta secção, abordamos como atravessar o sofrimento sem ficarmos presos nele.
abordagem emocional curar feridas passado