As mulheres e o discurso em público

O debate sobre as diferenças entre homens e mulheres no local de trabalho está a abrir-se cada vez mais. É inegável que ambos os sexos têm caraterísticas distintivas: os homens, regra geral, possuem mais força e sobressaem em relação às mulheres em trabalhos que exigem capacidades físicas. Isto explica porque é que os atletas masculinos tendem a ter melhores resultados do que as atletas femininas. No domínio intelectual, as diferenças são muito reduzidas. Não há provas sólidas de que os homens sejam mais inteligentes do que as mulheres ou vice-versa.

Falar em público exige competências intelectuais. Estas competências incluem a comunicação, a interpretação, a empatia, o carisma e a extroversão. Dito isto, que papel desempenham as mulheres e quais são as suas possibilidades no domínio da oratória? Para aprofundar este tema, vamos realizar a seguinte sessão.

A autoridade na mulher: Uma das falácias mais conhecidas é a da autoridade. Uma falácia de autoridade é aquela que ocorre quando um argumento é rejeitado com base no facto de a pessoa que o apresenta não ser um especialista no assunto. No domínio da oratória, e no que diz respeito às mulheres, a falácia da autoridade está muito presente. Nos temas tecnológicos e industriais, o perfil feminino não é normalmente percepcionado como autoridade. Uma mulher que fale de automóveis, de tecnologia, de desenvolvimento industrial ou de qualquer outro tema relacionado pode ser injustamente julgada devido ao estigma pré-existente que nos motiva a atribuir papéis de género ao trabalho.

Ao contrário dos exemplos citados acima, quando se fala de moda, beleza, estilo, marketing, entre outros, as mulheres tendem a apresentar um perfil mais autoritário. Essa falácia é difícil de ser desmontada e enquadra os palestrantes em uma série de tópicos sem levar em conta o seu nível de conhecimento. O lado positivo é que cada vez mais estas separações de papéis estão a ser quebradas. Trata-se de um processo lento que está a ser promovido em maior medida pela geração mais jovem. Na perspetiva de um cenário de maior igualdade no discurso público, as mulheres não devem ter medo de abordar temas estigmatizados como masculinos. Temos de enfrentar estes preconceitos com profissionalismo e esforçarmo-nos por demonstrar as competências e os conhecimentos necessários.

Imagem e voz: A imagem e a voz de um orador são uma parte essencial da sua marca pessoal. Tal como um realizador de cinema procura actores com um determinado perfil para interpretar uma personagem, as empresas procuram estilos muito marcados para abordar questões ou promover produtos. Um exemplo disso é o sector da tecnologia. Quase todas as apresentações de produtos tecnológicos são feitas por homens, com predominância de oradores de voz grave.

Estudos demonstraram que este tipo de mensagem é melhor recebido pelo público quando a voz do orador é grave. Este facto já coloca as mulheres, que geralmente têm uma voz mais aguda, em desvantagem. Tudo isto tem levado algumas mulheres, que ocupam cargos importantes no sector da tecnologia ou que são comunicadoras em empresas deste mercado, a adotar e a fingir ter uma voz mais grave do que a que realmente têm.

Por outro lado, na área da moda, os oradores masculinos procuram uma aparência mais sensível e projectam uma voz mais aguda. Mais uma vez, este é um exemplo da já mencionada falácia da autoridade. A voz e a imagem de um orador levam-no a ser julgado de uma forma ou de outra. A mulher deve demonstrar os seus conhecimentos e competências, independentemente de a sua voz ser aguda ou grave. O estilo e a imagem do orador podem ser moldados, mas não são o mais importante. O aspeto positivo é que quando uma mulher demonstra competência numa determinada área, aspectos tão banais como os acima mencionados deixam de ser importantes.