Transcrição Neurobiologia do autismo: bases neuroanatómicas e neuroquímicas
O autismo é uma perturbação do espetro do autismo (PEA) caracterizada por diferenças significativas na comunicação, interação social e comportamento. À medida que avançamos na nossa compreensão do autismo, torna-se cada vez mais claro que a sua origem reside numa complexa interação de factores genéticos, neuroanatómicos e neuroquímicos.
Nesta sessão, iremos explorar a base neurobiológica do autismo, focando a neuroanatomia e a neuroquímica, e como estas contribuem para a nossa compreensão desta perturbação.
Neuroanatomia do Autismo
- Tamanho e conetividade do cérebro: A investigação revelou diferenças no tamanho e na conetividade de certas áreas do cérebro em pessoas com autismo. Em particular, foi observado um aumento do tamanho do cérebro em algumas regiões, como o lobo frontal e o lobo temporal, que estão envolvidos na comunicação e na interação social. Além disso, foi registado um aumento da conetividade funcional entre diferentes regiões cerebrais, o que pode estar relacionado com padrões de pensamento e comportamento caraterísticos do autismo.
- Córtex cerebral e substância branca: A análise do córtex cerebral revelou diferenças na sua espessura e organização nas pessoas com autismo. Estas diferenças podem estar relacionadas com o processamento de informação sensorial e social. Também foram observadas alterações na substância branca, que liga diferentes regiões do cérebro, o que poderia influenciar a comunicação entre essas áreas e contribuir para as caraterísticas do autismo.
- Amígdala e perceção emocional: A amígdala é uma estrutura cerebral importante para o processamento das emoções, tendo-se verificado que está hiperactiva nas pessoas com autismo. Isto pode contribuir para dificuldades na perceção e regulação emocional, bem como problemas nas interações sociais.
- Neurónios espelho: O sistema de neurónios espelho é fundamental para a imitação e empatia. Alguns estudos sugerem que as pessoas com autismo podem ter diferenças no funcionamento deste sistema, o que poderia contribuir para as dificuldades de imitação e empatia observadas nesta perturbação.
Neuroquímica do Autismo
- Disfunção do sistema de neurotransmissores: Os neurotransmissores são substâncias químicas que permitem a comunicação entre as células nervosas. Tem sido sugerido que as pessoas com autismo podem ter desequilíbrios nos sistemas de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina. Estes desequilíbrios podem contribuir para as diferenças na regulação emocional e no comportamento observadas no autismo.
- Disfunção do sistema da oxitocina: A oxitocina é uma hormona e um neurotransmissor que desempenha um papel crucial nas interações sociais e na empatia. A investigação investigou a possibilidade de as pessoas com autismo poderem ter disfunções no sistema de oxitocina, o que poderia contribuir para dificuldades na formação de relações sociais.
- Inflamação e resposta imune: Algumas pessoas com autismo têm sido observadas com respostas imunes anormais e níveis elevados de marcadores inflamatórios. Estas anomalias podem afetar o desenvolvimento cerebral e contribuir para as caraterísticas do autismo. Além disso, alguns estudos descobriram que as mães de crianças com autismo têm um risco aumentado de inflamação durante a gravidez, sugerindo uma possível influência pré-natal.
Interação Genética e Neurobiologia
A genética desempenha um papel significativo na neurobiologia do autismo. Descobriu-se que muitas variantes genéticas estão associadas a um risco acrescido de autismo. Estas variantes podem afetar a estrutura e a função do cérebro, bem como a regulação de neurotransmissores e hormonas.
No entanto, o autismo é uma doença altamente heterogénea, o que significa que nenhum gene ou grupo de genes é responsável pelo seu desenvolvimento. Em vez disso, pensa-se que múltiplas variantes genéticas interagem de forma complexa com factores ambientais para determinar a vulnerabilidade ao autismo.
Importância da Pesquisa em Neurobiologia do Autismo
A pesquisa em neurobiologia do autismo é crítica por várias razões:
- Diagnóstico precoce: Compreender a base neurobiológica do autismo pode ajudar no desenvolvimento de biomarcadores que permitam um diagnóstico mais precoce, o que por sua vez permite uma intervenção mais precoce e eficaz.
- Desenvolvimento de tratamentos: Compreender as diferenças na neurobiologia do autismo pode levar ao desenvolvimento de tratamentos mais específicos e direcionados que atendam às necessidades individuais das pessoas com TEA.
- Reduzir o estigma: A investigação em neurobiologia pode ajudar a reduzir o estigma que rodeia o autismo, demonstrando que se trata de uma perturbação de base biológica e não apenas de uma questão comportamental.
- Apoio às famílias: O conhecimento da base neurobiológica do autismo pode proporcionar às famílias uma compreensão mais profunda das necessidades dos seus entes queridos e oferecer um sentimento de esperança ao identificar possíveis vias de tratamento.
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